Ouvi isto, povos todos do universo,
muita atenção, ó habitantes deste mundo;
– poderosos e humildes, escutai-me,
ricos e pobres, todos juntos, sede atentos!
ricos e pobres, todos juntos, sede atentos!
– Minha boca vai dizer palavras sábias,
que meditei no coração profundamente;
– e inclinando meus ouvidos às parábolas,
decifrarei ao som da harpa o meu enigma:
– Por que temer os dias maus e infelizes,
quando a malícia dos perversos me circunda?
– Por que temer os que confiam nas riquezas
e se gloriam na abundância de seus bens?
– Ninguém se livra de sua morte por dinheiro
nem a Deus pode pagar o seu resgate.
– A isenção da própria morte não tem preço;
não há riqueza que a possa adquirir,
– nem dar ao homem uma vida sem limites
e garantir-lhe uma existência imortal.
-- Morrem os sábios e os ricos igualmente;
morrem os loucos e também os insensatos,
e deixam tudo o que possuem aos estranhos;
-- os seus sepulcros serão sempre as suas casas,
suas moradas através das gerações,
mesmo se deram o seu nome a muitas terras.
– Não dura muito o homem rico e poderoso;
é semelhante ao gado gordo que se abate.
– Este é o fim do que espera estultamente,
o fim daqueles que se alegram com sua sorte;
-- são um rebanho recolhido ao cemitério,
e a própria morte é o pastor que os apascenta;
são empurrados e deslizam para o abismo.
– Logo seu corpo e seu semblante se desfazem,
e entre os mortos fixarão sua morada.
– Deus, porém, me salvará das mãos da morte
e junto a si me tomará em suas mãos.
– Não te inquietes, quando um homem fica rico
e aumenta a opulência de sua casa;
– pois ao morrer não levará nada consigo,
nem seu prestígio poderá acompanhá-lo.
– Felicitava-se a si mesmo enquanto vivo:
‘Todos te aplaudem, tudo bem, isto que é vida!’
– Mas vai-se ele para junto de seus pais,
que nunca mais e nunca mais verão a luz!
– Não dura muito o homem rico e poderoso:
é semelhante ao gado gordo que se abate.
Antonio de Pereda. "O sonho do cavaleiro" (1638) |