Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de
África), doutor da Igreja.
Sermão 155
Sermão 155
O povo judeu celebrava a Páscoa, como sabeis, com a imolação
de um cordeiro, que depois comia com pães ázimos. Esta imolação do cordeiro
prefigurava a imolação de Jesus Cristo, e os pães ázimos, a vida nova
purificada do velho fermento. [...] E, cinquenta dias depois da Páscoa, este
mesmo povo festejava o momento em que Deus lhe dera, sobre o Monte Sinai, a Lei
escrita com sua mão, com seu dedo. À figura da Páscoa sucede a Páscoa em
plenitude (1Cor 5,7): Jesus Cristo foi imolado e fez-nos passar da morte à vida.
A palavra Páscoa significa «passagem», e é isso que o evangelista exprime ao
dizer: «Chegada a hora em que Jesus havia de passar deste mundo para o Pai...»
(Jo 13,1) [...]
Cinquenta dias depois, o Espírito Santo, «o dedo de Deus» (Lc 11,20), desce sobre
os discípulos. Mas vede que diferença de circunstâncias em relação ao Sinai.
Lá, o povo mantinha-se ao longe, dominado pelo temor e não pelo amor. [...]
Pelo contrário, quando o Espírito Santo desceu, os discípulos estavam todos
reunidos num mesmo lugar, e o Espírito, longe de os atemorizar do alto da
montanha, entra na casa onde eles estavam reunidos.
«Viram», diz a Escritura, «umas línguas, à maneira de fogo, que se iam
dividindo». Tratar-se-ai de um fogo que semeava o temor? De maneira nenhuma! Essas
línguas de fogo poisaram sobre cada um deles e eles começaram a falar diversas
línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem. Escutai as
línguas que eles falam e compreendei que é o Espírito quem escreve, não sobre a
pedra, mas nos corações (2Cor 3,3). Assim, pois, a lei do Espírito de vida,
escrita no coração e não sobre a pedra, a lei do Espírito de vida, digo, está
em Jesus em quem a Páscoa foi celebrada na plenitude da verdade.
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