quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Te Deum (indulgência em 31/12/2015)

Concede-se indulgência parcial ao fiel que recitar o hino Te Deum (A vós, ó Deus) em ação de graças, e será plenária, quando recitado em público no último dia do ano.




A vós, ó Deus, louvamos, a vós, Senhor, cantamos. A vós, eterno Pai, adora toda a terra. A vós cantam os anjos, os céus e seus poderes: Sois Santo, Santo, Santo, Senhor, Deus do universo! Proclamam céus e terra a vossa imensa glória. A vós celebra o coro glorioso dos Apóstolos. Louva-vos dos Profetas a nobre multidão e o luminoso exército dos vossos santos mártires. A vós por toda a terra proclama a Santa Igreja, Ó Pai onipotente, de imensa majestade. E adora juntamente o vosso Filho único, Deus vivo e verdadeiro, e ao vosso Santo Espírito. Ó Cristo, Rei da glória, do Pai eterno Filho, nascestes duma Virgem, a fim de nos salvar. Sofrendo vós a morte, da morte triunfastes, abrindo aos que têm fé dos céus o reino eterno. Sentastes à direita de Deus, do Pai na glória. Nós cremos que de novo vireis como juiz. Portanto, vos pedimos: salvai os vossos servos, que vós, Senhor, remistes com sangue precioso. Fazei-nos ser contados, Senhor, vos suplicamos, em meio a vossos santos na vossa eterna glória.


(A parte que segue pode ser omitida, se for oportuno.)


Salvai o vosso povo, Senhor, abençoai-o. Regei-nos e guardai-nos até a vida eterna. Senhor, em cada dia, fiéis, vos bendizemos, Louvamos vosso nome agora e pelos séculos. Dignai-vos, neste dia, guardar-nos do pecado. Senhor, tende piedade de nós, que a vós clamamos. Que desça sobre nós, Senhor, a vossa graça, porque em vós pusemos a nossa confiança. Fazei que eu, para sempre, não seja envergonhado. Em vós, Senhor, confio, sois vós minha esperança!

domingo, 27 de dezembro de 2015

Misericórdia: Afetos e Súplicas. Santo Afonso Maria de Ligório

Meu Deus! Eis aqui um dos que vos têm ofendido porque éreis bom para mim!... Ó Senhor, esperai-me ainda. Não me abandoneis, pois espero, com o auxílio de vossa graça, não tornar a dar-vos motivo para que me deixeis. Arrependo-me, ó Bondade infinita, de vos ter ofendido, cansando vossa paciência.
Agradeço-vos por me terdes esperado até agora. De hoje em diante não tornarei a ser, como hei sido, um miserável traidor. Já que tendes esperado para ver-me convertido em fervoroso amante de vossa bondade, crede, como espero, que esse dia ditoso já despontou. Amo-vos sobre todas as coisas; estimo a vossa graça mais que todos os reinos do mundo, e a perdê-la preferira perder mil vezes a vida. Meu Deus, por amor de Jesus Cristo, concedei-me, juntamente com vosso santo amor, o dom da perseverança até à morte. Não permitais que de novo volte a trair-vos ou deixe de vos amar.
E vós, Virgem Maria, minha esperança, alcançai-me a perseverança final e nada mais vos peço.

Preparação para a morte. Reflexões sobre as verdades eternas.


terça-feira, 24 de novembro de 2015

Salmo 48(49)


Ouvi isto, povos todos do universo, 
muita atenção, ó habitantes deste mundo;

 poderosos e humildes, escutai-me,  
ricos e pobres, todos juntos, sede atentos! 


 Minha boca vai dizer palavras sábias,  
que meditei no coração profundamente; 
 e inclinando meus ouvidos às parábolas,  
decifrarei ao som da harpa o meu enigma: 

 Por que temer os dias maus e infelizes,  
quando a malícia dos perversos me circunda? 
 Por que temer os que confiam nas riquezas  
e se gloriam na abundância de seus bens? 

 Ninguém se livra de sua morte por dinheiro  
nem a Deus pode pagar o seu resgate. 
 A isenção da própria morte não tem preço;  
não há riqueza que a possa adquirir, 
 nem dar ao homem uma vida sem limites  
e garantir-lhe uma existência imortal. 

-- Morrem os sábios e os ricos igualmente;  
morrem os loucos e também os insensatos,  
e deixam tudo o que possuem aos estranhos; 
-- os seus sepulcros serão sempre as suas casas,  
suas moradas através das gerações,  
mesmo se deram o seu nome a muitas terras. 

 Não dura muito o homem rico e poderoso;  
é semelhante ao gado gordo que se abate.

 Este é o fim do que espera estultamente,  
o fim daqueles que se alegram com sua sorte; 
-- são um rebanho recolhido ao cemitério, 
e a própria morte é o pastor que os apascenta; 
são empurrados e deslizam para o abismo. 

– Logo seu corpo e seu semblante se desfazem,  
e entre os mortos fixarão sua morada. 
 Deus, porém, me salvará das mãos da morte  
e junto a si me tomará em suas mãos. 

 Não te inquietes, quando um homem fica rico  
e aumenta a opulência de sua casa; 
 pois ao morrer não levará nada consigo,  
nem seu prestígio poderá acompanhá-lo. 

 Felicitava-se a si mesmo enquanto vivo:  
‘Todos te aplaudem, tudo bem, isto que é vida!’ 
 Mas vai-se ele para junto de seus pais,  
que nunca mais e nunca mais verão a luz! 

 Não dura muito o homem rico e poderoso:  
é semelhante ao gado gordo que se abate.

Antonio de Pereda. "O sonho do cavaleiro" (1638)


Hino das Vésperas

Autor e origem do tempo,
por sábia ordem nos dais
o claro dia ao trabalho,
e a noite, ao sono e à paz.

As mentes castas guardai
dentro da calma da noite
e que não venha a feri-las
do dardo mau o açoite.

Os corações libertai
de excitações persistentes.
Não quebre a chama da carne
a força viva das mentes.

Ouvi-nos, Pai piedoso,
e vós, ó Filho de Deus,
que como Espírito Santo
reinais eterno nos céus.




domingo, 30 de agosto de 2015

O Senhor se compadeceu de nós.



Dos Sermões de Santo Agostinho, Bispo e Doutor da Igreja, século V.

(Sermo 23A,1-4: CCL 41,321-323)             

Felizes de nós, se o que ouvimos e cantamos também executamos. A audição é nossa semeadura, e nossos atos, frutos da semente. Disse isto de antemão para exortar vossa caridade e não entrardes sem fruto na igreja, ouvindo tantas coisas boas sem realizá-las. Porque por sua graça fomos salvos, assim diz o Apóstolo, não por nossas obras, não aconteça alguém se ensoberbecer (Ef 2,8-9) pois por sua graça fomos salvos (Ef 2,5). Pois não precedeu nenhuma vida virtuosa que Deus pudesse amar e dizer: “Ajudemos, socorramos estes homens porque vivem bem”. Desagradava-lhe nossa vida, desagradava-lhe em nós tudo o que fazíamos, mas não lhe desagradava o que ele mesmo fez em nós. Por isto, o que nós fizemos, ele o condenará; o que ele próprio fez, ele o salvará.  
Não éramos bons. Mas ele se compadeceu de nós e enviou seu Filho para morrer não pelos bons, mas pelos maus, não pelos justos, mas pelos ímpios. Na verdade Cristo morreu pelos ímpios (Rm 5,6). E como continua? Mal se encontra alguém que morra por um justo, pois talvez alguém se atreva a morrer por um bom (Rm 5,7). Quiçá haja alguém que ouse morrer por um bom. Mas pelo injusto, pelo ímpio, pelo iníquo, quem quererá morrer? Só Cristo, para que, justo, justifique até mesmo os injustos.  
Não tínhamos, meus irmãos, nenhuma obra boa, mas todas eram más. E sendo tais os atos dos homens, sua misericórdia não abandonou os homens. Deus enviou seu Filho, para remir-nos, não por ouro, não por prata, mas ao preço de seu sangue derramado, cordeiro imaculado levado como vítima pelas ovelhas maculadas, se é que só maculadas e não totalmente corrompidas! Recebemos então esta graça. Vivamos de modo digno dessa graça e não façamos injúria à grandeza do dom que recebemos. Tão grande médico veio a nós e perdoou todos os nossos pecados. Se quisermos recair na doença, não só nos prejudicaremos a nós mesmos, mas seremos ingratos ao próprio médico.  
 Sigamos os caminhos que ele próprio indicou, muito em especial a via da humildade, via que ele mesmo se fez por nós. Mostrou-nos pelos preceitos o caminho da humildade e criou-o padecendo por nós. Com o intuito de morrer por nós – e sem poder morrer – o Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14), para poder morrer por nós, aquele que não podia morrer. E com sua morte matar nossa morte.  
Fez isto o Senhor, isto nos concedeu. O excelso humilhou-se, humilhado foi morto e, ressurgindo, foi exaltado, a fim de não nos deixar mortos nas profundezas, mas de exaltar em si na ressurreição dos mortos aqueles que já agora exaltou pela fé e o testemunho dos justos. Deu-nos então a humildade como caminho. Se nos agarrarmos a ela, confessaremos o Senhor e com toda razão cantaremos: Nós te confessaremos, Senhor, confessaremos e invocaremos teu nome (Sl 74,2).

sábado, 15 de agosto de 2015

Fratello Sole, Sorella Luna (Irmão Sol, Irmã Lua)

Fratello Sole, Sorella Luna

Dolce sentire come nel mio cuore
Ora umilmente sta nascendo amore
Dolce capire che non son più solo
Ma che son parte di una immensa vita
Che generosa risplende intorno a me
Dono di lui, del suo immenso amore!

Ci ha dato il cielo e le chiare stelle
Fratello sole e sorella luna
La madre terra con frutti prati e fiori
Il fuoco, il vento, l'aria e l'acqua pura
Fonte di vita per le sue creature
Dono di lui, del suo immenso amore
Dono di lui, del suo immenso amore.



Irmão Sol, Irmã Lua

Doce é sentir como em meu coração
Agora humildemente está nascendo amor
Doce é entender que não sou mais só
Mas que eu sou parte de uma imensa vida
Que generosa resplende em torno de mim
Presente dele, do seu imenso amor!

Deu-nos o céu e as estrelas claras
Irmão sol e irmã lua
A mãe terra com frutos, campos e flores
O fogo, o vento, o ar e água pura
Fonte de vida para suas criaturas
Presente dele, do seu imenso amor
Presente dele, do seu imenso amor.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Igreja Católica: Mãe das Universidades - Prof. Felipe Aquino

Brasão da Universidade de Bolonha, a primeira do mundo, fundada pela Igreja Católica
    
 Os estudantes universitários normalmente têm um conhecimento pouco profundo sobre a Idade Média; e porque muitos são mal informados, acham que foi um período de ignorância, superstição e repressão intelectual por parte da Igreja Católica. No entanto, foi exatamente na Idade Média que surgiu a maior contribuição intelectual para o mundo: o sistema universitário. A universidade foi um fenômeno totalmente novo na história da Europa. Nada como ele existiu no mundo grego ou romano afirmam os historiadores.
     O ensino superior na Idade Média era ministrado por iniciativa da Igreja. A Universidade medieval não tem precedentes históricos; no mundo grego houve escolas públicas, mas todas isoladas. No período greco-romano cada filósofo e cada mestre de ciências tinham “sua escola”, o que implicava justamente no contrário de uma Universidade. Esta surgiu na Idade Média, pelas mãos da Igreja Católica, e reunia mestres e discípulos de várias nações, os quais constituíam poderosos centros de saber e  de erudição.
     Por volta de 1100, no meio de uma grande fermentação intelectual, começam as surgir as Universidades; o orgulho da Idade Média cristã, irmãs das Catedrais. A sua aparição é um marco na história da civilização Ocidental que nenhum historiador tem coragem de negar. Elas nasceram às sombras das Catedrais e dos mosteiros. Logo receberam o apoio das autoridades da Igreja e dos Papas. Assim, diz Daniel Rops, “a Igreja passou a ser a matriz de onde saiu a Universidade” (A Igreja das Catedrais e das Cruzadas, p. 345).
    Tudo isso nesta bela época que alguns teimam em chamar maldosamente de “obscura” Idade Média. A razão e a fé sempre caminharam juntas na Igreja.
     A raiz das Universidades está no século IX com as escolas monásticas da Europa, especialmente para a formação dos monges, mas que recebiam também estudantes externos. Depois, no século XI surgiram as escolas episcopais; fundadas pelos bispos, os Centros de Educação nas cidades, perto das Catedrais. No século XII, surgiram centros docentes debaixo da proteção dos Papas e Reis católicos, para onde acorriam estudantes de toda Europa.
     A primeira Universidade do mundo Ocidental foi a de Bolonha (1158), na Itália, que teve a sua origem na fusão da escola episcopal com a escola monacal camaldulense de São Félix. Em 1200 Bolonha tinha dez mil estudantes (italianos, lombardos, francos, normandos, provençais, espanhóis, catalães, ingleses germanos, etc.). A segunda, e que teve maior fama foi a Universidade de Paris, a Sorbone, que surgiu da escola episcopal da Catedral de Notre Dame. Foi fundada pelo confessor de S. Luís IX, rei de França, Sorbon. Ali foram estudar muitos grandes santos como Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier e São Tomás de Aquino. A universidade de Paris (Sorbonne) era chamada de “Nova Atenas” ou o “Concílio perpétuo das Gálias”, por ser especialmente voltada à teologia.
     O documento mais antigo que contém a palavra “Universitas” utilizada para um centro de estudo é uma carta do Papa Inocêncio III ao “Estúdio Geral de Paris”. A universidade de Oxford, na Inglaterra, surgiu de uma escola monacal organizada como universidade por estudantes da Sorbonne de Paris. Foi apoiada pelo Papa Inocêncio IV (1243-1254) em 1254.
     Salamanca é a Universidade mais antiga da Espanha das que ainda existem, fundada pela Igreja; seu lema é “Quod natura non dat, Salmantica non praestat” (O que a natureza não nos dá, Salamanca não acrescenta”). Entre as universidades mais antigas está a de Santiago de Compostela. A cidade foi um foco de cultura desde 1100 graças ao prestígio de sua escola capitular que era um centro de formação de clérigos vinculados à Catedral. A Universidade de Valladolid é anterior à de Compostela já que em 1346 obteve do  papa Clemente VI a concessão  de todas as faculdades, exceto a de Teologia.
     Em 1499, o Cardeal Cisneros fundou a famosa universidade “Complutense” mediante a Bula Pontifícia concedida pelo Papa Alexandre VI. Nos anos de 1509-1510 já funcionavam cinco Faculdades: Artes e Filosofia, Teologia, Direito Canônico, Letras e Medicina.
     Até 1440 foram erigidas na Europa 55 Universidades e 12 Institutos de ensino superior, onde se ministravam cursos de Direito, Medicina, Línguas, Artes, Ciências, Filosofia e Teologia. Todos fundados pela Igreja. O Papa Clemente V (1305-1314) no Concilio universal de Viena em 1311, mandou que se instaurassem nas escolas superiores cursos de línguas orientais (hebreu, caldeu, árabe, armênio, etc.), o que em breve foi feito também  em Paris, Bolonha, Oxford, Salamanca e Roma.
     A atual Universidade de Roma, La Sapienza – onde tristemente estudantes e professores impediram o Papa Bento XVI de proferir a aula inaugural em 2008 –  foi fundada há sete séculos, em 1303, pelo Papa Bonifácio VIII (1294-1303), com o nome de “Studium Urbis”.
     Das 75 Universidades criadas de 1500, 47 receberam a Bula papal de fundação, enquanto muitas outras, que surgiram espontaneamente ou por decisão do poder secular, receberam em seguida a confirmação pontifícia, com a concessão da Faculdade de Teologia ou de Direito Canônico. (Sodano, 2004).
     As universidades atraíam multidões de estudantes, da Alemanha, Itália, Síria, Armênia e Egito. Vinham para a de Paris chegavam a 4000, cerca de 10% da população.
     Só na França havia uma dezena de universidades: Montepellier (1125), Orleans (1200), Toulouse (1217), Anger (1220), Gray, Pont-à-Mousson, Lyon, Parmiers, Norbonne e Cabors. Na Itália: Salerno (1220), Bolonha (1111), Pádua, Nápoles e Palerno. Na Inglaterra: Oxford (1214), nascida das Abadias de Santa Frideswide e de Oxevey, Cambridge. Além de Praga na Boêmia, Cracóvia (1362), Viena (1366), Heidelberg (1386). Na Espanha: Salamanca e Portugal, Coimbra. Todas fundadas pela Igreja. Como dizer que a Idade Média cristã foi uma longa “noite escura” no tempo? As universidades medievais foram centros de intensa vida intelectual, onde os grandes homens se enfrentavam em discussões apaixonadas nos grandes problemas. E a fé era o fermento que fazia a cultura crescer.
     Graças ao latim todos se entendiam, era a língua universal e acadêmica; esta permitia aos sábios comunicar-se de um ponto a outro da Europa Ocidental. Havia uma unidade interna e de obediência aos mesmos princípios; era o reflexo de uma civilização vigorosa, segura de sua força e de si mesma.
     A partir de 1250, o grego foi ensinado nas escolas dominicanas e, a partir de 1312 nas universidades de Sorbonne, Oxford, Bolonha e Salamanca. Abria-se assim um novo campo ao pensamento que desencadeou uma onda de paixão filosófica no nascimento da Escolástica-teologia e filosofia unidas para provar uma proposição de fé.
    Santo Agostinho, Cassidoro, Santo Isidoro de Sevilha, Rábano Mauro e Alamino, os grandes mestres da Antiguidade, se apoiavam sobretudo nas Sagradas Escrituras. Agora o intelectual cristão da Idade Média quer demonstrar que os dogmas estão de acordo com a razão e que são verdadeiros. É a “teologia especulativa”, onde a filosofia é amiga da teologia. Os problemas do mundo são estudados agora sob esta dupla ótica.
     A Universidade medieval era um mundo turbulento e cosmopolita; os estudantes de Paris estavam repartidos em quatro nações: os Picardos, os Ingleses, os Alemães e os Franceses.  Os professores também vinham de diversas partes do mundo: havia Sigério de Brabante (Bélgica), João de Salisbury (Inglaterra), S. Alberto Magno (Renânia), S. Tomás de Aquino e São Boaventua da Itália.
     Os problemas que apaixonavam os filósofos, eram os mesmos em Paris, em Oxford, em Edimburgo, em Colônia ou em Pavia. O mundo estudantil era também um mundo itinerante: os jovens saiam de casa para alcançar a Universidade de sua escolha; voltavam para sua terra nas festas.  O sistema universitário que temos hoje com cursos de graduação, pós-graduação, faculdades, exames e graus veio diretamente do mundo medieval.
     Os papas sabiam bem da importância das universidades nascentes para a Igreja e para o mundo, e por isso intervinham em sua defesa muitas vezes. O Papa Honório III (1216-1227) defendeu os estudantes de Bolonha em 1220 contra as restrições de suas liberdades. O Papa Inocêncio III (1198-1216) interveio quando o chanceler de Paris insistiu em um juramento à sua personalidade. O Papa Gregório IX (1227-1241) publicou a Bula “Parens Scientiarum” em nome dos mestres de Paris, onde garantiu à Universidade de Paris (Sorbonne) o direito de se auto-governar, podendo fazer suas leis em relação aos cursos e estudos, e dando à Universidade uma jurisdição papal, emancipando-a da interferência da diocese.
     O papado foi considerado a maior força para a autonomia da Universidade, segundo A. Colban (1975). Era comum as universidades trazerem suas queixas ao Papa em Roma. Muitas vezes o Papa interveio para que as universidades pagassem os salários dos professores; Bonifácio VIII (1294-1303), Clemente V (1305-1314), Clemente VI (1342-1352), e Gregório XI (1370-1378) fizeram isso.
“Na universidade e em outras partes, nenhuma outra instituição fez mais para promover o saber do que a Igreja Católica”, garante Thomas  Woods (p. 51).
     O processo para se adquirir a licença para ensinar era difícil. Para se ter ideia da solenidade e importância do ato, basta dizer que a pessoa para ser licenciada se ajoelhava diante do Vice-chanceler, que dizia:
“Pela autoridade dos Apóstolos Pedro-Paulo, dou-lhe a licença de ensinar, fazer palestras, escrever, participar de discussões… e exercer outros atos do magistério, ambos na Faculdade de Artes em Paris e outros lugares, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém” [Daly, 1961; p. 135].
     Uma riqueza da universidade medieval é que era atenta às finalidades sociais. Não se aceitava a ideia de uma cultura desinteressada, ou um saber exclusivamente para seu próprio benefício pessoal. “Deve-se aprender apenas para a própria edificação ou para ser útil aos outros; o saber pelo saber é apenas uma vergonhosa curiosidade”, já havia dito São Bernardo (1090-1153).
     Para Inocêncio IV (1243-1254) a Universidade era o “Rio da ciência que rege e fecunda o solo da Igreja universal”, e Alexandre IV (1254-1261) a chamava de: “Luzeiro que resplandece na Casa de Deus” (Daniel Rops, p.348).
     Portanto, são maldosos ou ignorantes da História aqueles que insistem em se referir à Idade Média e à Igreja como promotoras da inimizade à Ciência e perseguidora dos cientistas.

Prof. Felipe Aquino

Este artigo está disponível no site da Editora Cléofas: http://cleofas.com.br/igreja-catolica-mae-das-universidades/


Pai Nosso em Grego - Pater hemon


Santa Teresinha do Menino Jesus nos fala..

do dia de sua Primeira Comunhão.

"Raiou enfim o "mais belo de todos os dias". Quão inefáveis não são as recordações que na alma me deixaram as mínimas circunstâncias desta data do Céu!...A alegre alvorada, os respeitosos e afetuosos beijos das mestras e das colegas maiores...O salão nobre, repleto de tufos cor de neve, com os quais  cada criança se via adornada por sua vez...Acima de tudo, a entrada na Capela e a entoação matinal do lindo cântico: "Ó Santo Altar, que dos anjos sois rodeado". [...]
Foi um ósculo de amor. Sentia-me amada, e de minha parte dizia: "Amo-vos, entrego-me a Vós para sempre". Não houve pedidos, nem juramentos, nem sacrifícios. Desde muito Jesus e a pobre Teresinha se tinham olhado e compreendido. Naquele dia porém já não era um olhar, era uma fusão. Já não eram dois, Teresa desvanecera, como a gota de água que se dilui no bojo do oceano. Ficava só Jesus, era Ele o Senhor, o Rei. Teresa pedira-lhe que lhe tirasse sua liberdade, pois sua liberdade lhe dava medo. Sentia-se tão fraca, tão frágil, que desejava permanecer para sempre unida à Força Divina!...Sua alegria era grande demais, profunda demais, para que a pudesse represar. Não tardou em debulhar-se em deliciosas lágrimas, com grande espanto das colegas, que mais tarde diziam entre si: "Não será por  não ter junto a si a própria mãe ou a irmã, que é carmelita, a quem tanto ama?" -- Não compreendiam que, ao descer a um coração toda a alegria do Céu, não a pode suportar um coração banido, sem derramar lágrimas... [...] Nesta data meu coração se encheu só de alegria. Uni-me a ela, que irrevogavelmente se dava Àquele que tão amorosamente se dava a mim!..."

Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face. História de uma alma. Manuscritos autobiográficos. São Paulo: Ed. Paulinas, 1979, 12ª edição, p. 90.





segunda-feira, 27 de julho de 2015

Evangelho de São João, Capítulo 1, Versículo 1, em grego e português.


EΝ AΡΧH HΝ O ΛOΓΟΣ ΚΑI O ΛOΓΟΣ HΝ PROΣ ΤOΝ ΘΕOΝ ΚΑI ΘΕOΣ HΝ O ΛOΓΟΣ.

Em letras minúsculas: Ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ Λόγος καὶ ὁ Λόγος ἦν πρὸς τὸν Θεόν, καὶ Θεὸς ἦν ὁ Λόγος.

(Transliteração: Én arkhê ên ho Logos, kai ho Logos ên pros ton Theón, kai Theós ên ho Logos)

No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus.

Manuscrito do primeiro capítulo do Evangelho de São João, em grego (koiné), língua em que foi escrito. Na época, todas as palavras eram escritas em letras maiúsculas sem espaço entre elas. 


EΝAΡΧHHΝOΛOΓΟΣΚΑIOΛOΓΟΣHΝΡOΣΤOΝΘΕOΝΚΑIΘΕOΣHΝOΛOΓΟΣ.

Oração. Multiplicação dos pães.

Senhor Jesus, somente vós podeis saciar nossa fome de felicidade. Fome que, como ensinais, só pode ser saciada pela nossa participação na vida da Trindade. 
Venho a vós, sedento e faminto, cansado de procurar a felicidade nas criaturas. Creio que  sois para mim o pão da vida nova, que me transformais e me assimilais a vós, fazendo-me participante de vossa divindade.
Participando de vosso corpo e de vosso sangue, de vossa vida e de vossa morte, alegro-me na esperança certa da vida eterna, na plena e total felicidade, quando já não haverá nem fome nem sede. 
No descampado da vida, onde nada encontro que me sacie, sois para mim o pão descido do céu. Quero alimentar-me de vós, Senhor, e assim terei forças para continuar na minha caminhada. Amém.

Fonte: Revista de Aparecida, julho de 2015, p. 57.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

São Boaventura. "Cristo é o caminho e a porta".


São Boaventura, O.F.M, bispo e doutor da Igreja (séc. XII). Obteve do título de mestre em teologia (hoje equivalente ao de doutor) em 1253, no mesmo dia em que Santo Tomás de Aquino. Foi titular da cadeira franciscana de teologia da Universidade de Paris, cardeal-bispo de Albano e ministro geral da Ordem dos Frades Menores (O.F.M.).  Foi declarado "Doutor Seráfico" pelo papa Sisto IV.

Do Opúsculo Itinerário da mente para Deus (Cap.7,1.2.4.6: Opera omnia,5,312-313)

A sabedoria mística revelada pelo Espírito Santo
Cristo é o caminho e a porta. Cristo é a escada e o veículo, o propiciatório colocado sobre a arca de Deus (cf. Ex 26,34) e o mistério desde sempre escondido (Ef 3,9). Quem olha para este propiciatório, com o rosto totalmente voltado para ele, contemplando-o suspenso na cruz, com fé, esperança e caridade, com devoção, admiração e alegria, com veneração, louvor e júbilo, realiza com ele a páscoa, isto é, a passagem. E assim, por meio do lenho da cruz, atravessa o mar Vermelho, saindo do Egito e entrando no deserto, onde saboreia o maná escondido. Descansa também no túmulo com Cristo, parecendo exteriormente morto, mas experimentando, tanto quanto é possível à sua condição de peregrino, aquilo que foi dito pelo próprio Cristo ao ladrão que o reconhecera: Ainda hoje estarás comigo no Paraíso (Lc 23,43).
Nesta passagem, se for perfeita, é preciso deixar todas as operações intelectuais, e que o ápice de todo o afeto seja transferido e transformado em Deus. Estamos diante de uma realidade mística e profundíssima: ninguém a conhece, a não ser quem a recebe; ninguém a recebe, se não a deseja; nem a deseja, se não for inflamado, até à medula, pelo fogo do Espírito Santo, que Cristo enviou ao mundo. Por isso, o Apóstolo diz que essa sabedoria mística é revelada pelo Espírito Santo (cf. 1Cor 2,13).
Se, portanto, queres saber como isso acontece, interroga a graça, e não a ciência; o desejo, e não a inteligência; o gemido da oração, e não o estudo dos livros; o esposo, e não o professor; Deus, e não o homem; a escuridão, e não a claridade. Não interrogues a luz, mas o fogo que tudo inflama e transfere para Deus, com unções suavíssimas e afetos ardentíssimos. Esse fogo é Deus; a sua fornalha está em Jerusalém. Cristo acendeu-a no calor da sua ardentíssima paixão. Verdadeiramente, só pode suportá-la quem diz: Minha alma prefere ser sufocada, e os meus ossos a morte (cf. Jó 7,15). Quem ama esta morte pode ver a Deus porque, sem dúvida alguma, é verdade: O homem não pode ver-me e viver (Ex 33,20). Morramos, pois, e entremos na escuridão; imponhamos silêncio às preocupações, paixões e fantasias. Com Cristo crucificado, passemos deste mundo para o Pai (cf. Jo 13,1), a fim de podermos dizer com o apóstolo Filipe, quando o Pai se manifestar a nós: Isso nos basta (Jo 14,8); ouvirmos com SãoPaulo: Basta-te a minha graça (2Cor 12,9); e exultar com Davi, exclamando:Mesmo que o corpo e o coração vão se gastando, Deus é minha parte e minha herança para sempre! (Sl 72,26). Bendito seja Deus para sempre! E que todo o povo diga: Amém! Amém! (cf. Sl 105,48).

domingo, 14 de junho de 2015

Alma de Cristo


Alma de Cristo, santificai-me.
Corpo de Cristo, salvai-me.
Sangue de Cristo, inebriai-me.
Água do lado de Cristo, purificai-me.
Paixão do Senhor, confortai-me,
Ó Bom Jesus, escutai-me.
Nas vossas chagas, escondei-me.
Não me separe de Vós.
Do inimigo, defendei-me.
Na hora da minha morte, chamai-me,
E mandai-me ir para Vós.
Com Vossos Santos Vos louve no céu
Eternamente. Amém.

(Oração de Santo Inácio de Loyola)

Pai, pequei contra o céu e contra ti...






















OBRIGADO, SENHOR DE TODAS AS MISERICÓRDIAS, PELO PERDÃO RECEBIDO NESTE DIA. Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós!
Festa de Santo Antônio de Pádua.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

REGINA CAELI

Regina Caeli

Regina caeli, laetare, alleluia,
quia quem meruísti portáre, alleluia,
resurréxit sicut dixit, alleluia;
ora pro nobis Deum, alleluia.




RAINHA DO CÉU

Rainha do céu, alegrai-vos, aleluia,
Pois o Senhor que merecestes trazer em vosso seio, aleluia,
Ressuscitou, como disse, aleluia;
Rogai a Deus por nós, aleluia.


Como os anjos compuseram o "Regina Coeli"

O "Regina Cœli" ou "Regina Cæli" (em português “Rainha do Céu”) é um hino dedicado a Nossa Senhora que se reza às 6h00, 12h00 e às 18h00, durante o Tempo Pascal. Ele substitui a oração do Ângelus, feita nos outros dias do ano, nos mesmos horários. Não se conhece autor humano. Ele teria sido composto pelos anjos, segundo atesta imemorial tradição. Era o ano 590, em Roma. Já devastada por um transbordamento do Tibre, que havia alagado a cidade reduzindo-a à fome, irrompeu uma terrível peste. Para aplacar a cólera divina, o Papa São Gregório Magno ordenou uma litania septiforme, isto é, uma procissão geral do clero e da população romana, formada por sete cortejos que confluíram para a Basílica Vaticana. Enquanto a grande multidão caminhava pela cidade, a pestilência chegou a um tal furor, que, no breve espaço de uma hora, oitenta pessoas caíram mortas ao chão. Mas S. Gregório não cessou um instante de exortar o povo para que continuasse a rezar, e que diante do cortejo fosse levado o quadro da Virgem que chora, da igreja de Aracoeli, pintado pelo evangelista São Lucas. Fato maravilhoso: à medida que a imagem avançava, a área se tornava mais sã e limpa à passagem da procissão, e os miasmas da peste se dissolviam. Junto da ponte que une a cidade ao castelo, inesperadamente ouviu-se um coro que cantava, por cima da sagrada imagem: “Regina Coeli, laetare, Alleluia!”, ao qual São Gregório respondeu: “Ora pro nobis Deum, Alleluia!”. Assim nasceu o Regina Coeli. 
Após o canto, os anjos se colocaram em círculo em torno do quadro. São Gregório Magno, erguendo os olhos, viu sobre o alto do castelo um anjo exterminador que, após enxugar a espada, da qual escorria sangue, colocou-a na bainha, como sinal do cessamento do castigo. Como recordação, o castelo ficou conhecido com o nome de Sant’Angelo. Em sua mais alta torre foi posta a célebre imagem de São Miguel.

Quadro da Virgem de Aracoeli, atribuída ao evangelista São Lucas.

Castelo de Sant'Angelo em Roma

Imagem do anjo que embainha a espada, no alto do Castelo de Sant'Angelo em Roma

Fonte: https://virgemimaculada.wordpress.com/2014/07/19/como-surgiu-a-oracao-regina-coeli/

domingo, 12 de abril de 2015

Ao meu anjo da guarda - Um dos belos poemas de Santa Teresinha do Menino Jesus




À mon ange gardien

Glorieux gardien de mon âme,
Toi qui brille dans le beau ciel
Comme une douce et pure flamme
Près du trône de l'Eternel
Tu descends pour moi sur la terre
Et m'éclairant de ta splendeur
Bel ange, tu deviens mon frère,
Mon ami, mon consolateur!...

Connaissant ma grande faiblesse
Tu me diriges par la main
Et je te vois avec tendresse
Oter la pierre du chemin
Toujours ta douce voix m'invite
A ne regarder que les cieux
Plus tu me vois humble et petite
Et plus ton front est radieux.


O toi ! qui traverses l'espace
Plus promptement que les éclairs
Je t'en supplie, vole à ma place
Auprès de ceux qui me sont chers
De ton aile sèche leurs larmes
Chante combien Jésus est bon
Chante que souffrir a des charmes
Et tout bas, murmure mon nom ...

Je veux pendant ma courte vie
Sauver mes frères les pécheurs
O bel ange de la patrie
Donne-moi tes saintes ardeurs
Je n'ai rien que mes sacrifices
Et mon austère pauvreté
Avec tes célestes délices
Offre-les à la Trinité.

A toi le royaume et la gloire,
Les richesses du Roi des rois.
A moi l'humble Hostie du ciboire,
A moi le trésor de la Croix.
Avec la Croix, avec l'Hostie
Avec ton céleste secours
J'attends en paix de l'autre vie
Les joies qui dureront toujours.

Sainte Thérèse de l'Enfant-Jésus et de la Sainte-Face. Poésies. Paris: le Cerf, 1979.


TRADUÇÃO

Glorioso guardião de minha alma
Tu que brilhas no belo céu
Como uma pura e doce chama
Ao lado do trono do Eterno
Por mim tu desces à Terra
E iluminando-me com teu esplendor
Belo anjo, tu te tornas meu irmão
Meu amigo, meu consolador...

Conhecendo minha grande fraqueza,
Tu me diriges pela mão
E te vejo com ternura
Afastar as pedras do chão
Tua doce voz sempre me convida
A olhar apenas para o Céu.
Quanto mais me vês humilde e pequena
Mais  radiante fica tua face.

Ó tu que atravessas o espaço
Mais rápido que os relâmpagos
Eu te peço, voa em meu lugar
Para perto daqueles que amo
Com tua asa seca-lhes as lágrimas
Canta o quanto Jesus é bom
Canta que sofrer tem seu encanto
E baixinho, murmura o meu nome...

Eu quero, em minha curta vida,
Salvar meus irmãos, os pecadores
Ó belo anjo da Pátria,
Dá-me teus  santos ardores
Eu tenho apenas meus sacrifícios
E minha austera pobreza
Com tuas celestes delícias
Ofereça-os à Trindade.

A ti o Reino e a Glória
A riqueza do Rei dos reis
A mim a Hóstia humilde do cibório
A mim o tesouro da Cruz
Com a Cruz e com a Hóstia
E com tua celeste ajuda
Eu espero em paz as alegrias
Da outra vida, que durarão eternamente.




segunda-feira, 30 de março de 2015

Eu fico!

“Vou-me devagarinho para a eternidade... Vou com duas malas: uma contém os meus pecados; a outra, bem mais pesada, contém os méritos infinitos de Jesus Cristo. Quando eu comparecer diante do Tribunal de Deus, cobrirei a minha mala feia com os méritos de Nossa Senhora. Depois abrirei a outra e apresentarei os méritos de Jesus Cristo. Direi ao Pai: ‘Agora julgai o que vedes’. Estou segura de que não serei rejeitada! Então me voltarei para São Pedro e lhe direi: ‘Pode fechar a porta porque eu fico!

Santa Bakhita (1869 - 1947)

SANTA JOSEFINA BAKHITA, ROGAI POR NÓS!

Gloriemo-nos também nós na Cruz do Senhor!

 William-Adolphe Bouguereau. Pietà (1876)

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo, século V

(Sermo Guelferbytanus 3:PLS 2,545-546)


A Paixão de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é para nós penhor de glória e exemplo de paciência.

Haverá alguma coisa que não possam esperar da graça divina os corações dos fiéis, pelos quais o Filho unigênito de Deus, eterno como o Pai, não apenas quis nascer como homem entre os homens, mas quis também morrer pelas mãos dos homens que tinha criado?

Grandes coisas o Senhor nos promete no futuro! Mas o que ele já fez por nós e agora celebramos é ainda muito maior. Onde estávamos ou quem éramos, quando Cristo morreu por nós pecadores? Quem pode duvidar que ele dará a vida aos seus fiéis, quando já lhes deu até a sua morte? Por que a fraqueza humana ainda hesita em acreditar que um dia os homens viverão em Deus?

Muito mais incrível é o que já aconteceu: Deus morreu pelos homens.

Quem é Cristo senão aquele que no princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus: e a Palavra era Deus? (Jo 1,1). Essa Palavra de Deus se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14). Se não tivesse tomado da nossa natureza a carne mortal, Cristo não teria possibilidade de morrer por nós. Mas deste modo o imortal pôde morrer e dar sua vida aos mortais. Fez-se participante de nossa morte para nos tornar participantes da sua vida. De fato, assim como os homens, pela sua natureza, não tinham possibilidade alguma de alcançar a vida, também ele, pela sua natureza, não tinha possibilidade alguma de sofrer a morte.

Por isso entrou, de modo admirável, em comunhão conosco: de nós assumiu a mortalidade, o que lhe possibilitou morrer; e dele recebemos a vida.

Portanto, de modo algum devemos envergonhar-nos da morte de nosso Deus e Senhor; pelo contrário, nela devemos confiar e gloriar-nos acima de tudo. Pois tomando sobre si a morte que em nós encontrou, garantiu com total fidelidade dar-nos a vida que não podíamos obter por nós mesmos.

Se ele tanto nos amou, a ponto de, sem pecado, sofrer por nós pecadores, como não dará o que merecemos por justiça, fruto da sua justificação? Como não dará a recompensa aos justos, ele que é fiel em suas promessas e, sem pecado, suportou o castigo dos pecadores?

Reconheçamos corajosamente, irmãos, e proclamemos bem alto que Cristo foi crucificado por amor de nós; digamos não com temor, mas com alegria, não com vergonha, mas com santo orgulho.

O apóstolo Paulo compreendeu bem esse mistério e o proclamou como um título de glória. Ele, que teria muitas coisas grandiosas e divinas para recordar a respeito de Cristo, não disse que se gloriava dessas grandezas admiráveis – por exemplo, que sendo Cristo Deus como o Pai, criou o mundo; e, sendo homem como nós, manifestou o seu domínio sobre o mundo – mas afirmou: Quanto a mim, que eu me glorie somente na cruz do Senhor nosso, Jesus Cristo (Gl 6,14).

domingo, 8 de fevereiro de 2015

ANIMA CHRISTI (ALMA DE CRISTO)



Anima Christi, sanctifica me.                                             Alma de Cristo, santifica-me.
Corpus Christi, salva me.                                                   Corpo de Cristo, salva-me.                          
Sanguis Christi, inebria me.                                               Sangue de Cristo, inebria-me.
Aqua lateris Christi, lava me.                                             Água do lado de Cristo, lava-me.                  
Passio Christi, conforta me.                                               Paixão de Cristo, conforta-me.  
O bone Jesu, exaudi me.                                                   Ó bom Jesus, ouve-me.
Intra  vulnera tua absconde me.                                        Em tuas chagas, esconde-me          
Ne permittas  a te me separari.                                          Não permitas que eu me separe de ti.
Ab hoste maligno defende me.                                          Das hostes malignas, defende-me.
In hora mortis meae voca me.                                           Na hora da minha morte, chama-me
Et iube me venire ad te,                                                      E deixa-me ir a ti.
Ut cum Sanctis tuis laudem te.                                           Com os teus santos, louvar-te 
Per infinita saecula saeculorum.                                         Pelos infinitos séculos dos séculos.
Amen.                                                                                 Amém.

Santo Inácio de Loyola